Inteligência Artificial ao serviço da saúde: Os chatbots

A Inteligência Artificial (IA) é a ciência que procura estudar e compreender o fenómeno da inteligência e, ao mesmo tempo, um ramo da engenharia, na medida em que procura construir instrumentos para apoiar a inteligência humana. O que se pretende é produzir máquinas e programas que realizem tarefas que precisam do uso da inteligência.

A IA procura usar o modo como os humanos pensam, com a meta de criar modelos de inteligência, como programas de computador. É suposto estes sistemas serem capazes de armazenar e manipular dados e também adquirir, representar e manipular conhecimento.

Na prática a IA deve ser uma vantagem para o quotidiano, através de dispositivos de utilização diária, simplificando tarefas como a compra de um bilhete de comboio, através de sistemas de pergunta-resposta, ou, combater fraudes, por exemplo, através de um sistema artificial que se baseia em exemplos para que saiba tomar decisões, em determinadas situações.

Os sistemas estão ainda longe de serem perfeitos e sofrem de enviesamentos, dado que as máquinas são programadas por pessoas. Esse é um dos grandes desafios da IA: a imparcialidade e o atingir de um nível de perfeição acima do humano.

Questões éticas e inteligência artificial

A introdução destes sistemas na sociedade coloca questões em termos éticos, laborais, económicos e políticos.

Em termos éticos pode haver consequências práticas de um funcionamento defeituoso da máquina, tomando decisões enviesadas e até programações que recomendem vias de decisão não baseadas na evidência científica, mas em interesses específicos de uma determinada indústria, estado, etc.

No caso da saúde, é necessário pensar que efeitos terá a utilização destes softwares na relação médico-doente, bem como a quem atribuir a responsabilidade caso haja um resultado clínico desfavorável devido a um erro do programa.

Experiências atuais

Na área da saúde são múltiplas as experiências nos anos mais recentes. Citamos um caso designado OsteoDetect, um programa informático baseado neste tipo de técnica para analisar radiografias bidimensionais em casos de suspeitas de fraturas distais do pulso.

Desenhado para ser utilizado em serviços de urgência, de ortopedia e em cuidados primários, o programa não só identifica os exames anormais, como realça no raio X o local potencial da fratura, ajudando o médico no seu diagnóstico.

Neste caso, a aprendizagem da máquina é feita através da leitura prévia de milhares de radiografias classificadas como normais ou com fraturas, aplicando depois esse conhecimento aos novos exames. Esta técnica foi também já aplicada com sucesso no diagnóstico da retinopatia diabética e de cancro da pele.

A utilidade deste tipo de sistema é grande, bastando pensar no caso dos doentes politraumatizados e na difícil deteção da totalidade das fraturas presentes. A precisão da deteção das fraturas aumenta significativamente, quando comparada apenas com a análise humana.

Chatbots na saúde

De sistemas de reservas a clientes e serviços diversos, estas janelas de diálogo com ‘assistente’ são já muito presentes nos negócios.

Mas em áreas como a saúde as pessoas parecem menos dispostas a envolver-se com um computador que executa software inteligente, ou mesmo uma máquina que “aprende” por via destes sistemas.

É, no entanto, um facto incontornável que as empresas aproveitam cada mais os avanços da IA agregada à inteligência emocional para abrir novas oportunidades e ir ganhando a confiança das pessoas também nestes assuntos mais sensíveis.

Casos concretos: Ella e Tabatha

Uma empresa farmacêutica na Alemanha, quis usar um chatbot para dar conselhos às mulheres sobre a pílula do dia seguinte. Além de usar perguntas e respostas para entender o que as pessoas procuravam de facto, ainda tinha de conseguir fazê-lo de forma a serem discretos, privados e colocá-las à vontade.

Este chatbot, chamado Ella, foi lançado no site www.pille-danach.de, e usa perguntas e respostas para ajudar as pessoas a encontrar o que precisam, dando incentivo aos utilizadores para partilhar experiências/fazer perguntas que talvez não queiram fazer a uma pessoa. A situação de muitas mulheres que enfrentam a incerteza de uma gravidez depois de relações sexuais desprotegidas é emocionalmente complexa e acarreta, naturalmente, inseguranças: daí a pertinência do sistema.

Outro chatbot trabalhado com este impulso para a inteligência emocional, o Tabatha, guiava as pessoas com sintomas de asma a procurar aconselhamento, baseando-se no modelo do Facebook Messenger.

Tabatha aprendeu a reconhecer emoções e o que as pessoas queriam dizer quando se expressavam. Assumia ser um chatbot e mesmo assim não desencorajava milhares de pessoas a expor as suas dúvidas. Esta empresa mantém a aposta nesta área e inclui já a análise de biomarcadores digitais para apoiar o diagnóstico precoce de condições de saúde como a doença de Alzheimer.

Os chatbots nas relações públicas em saúde e assistência

Na indústria da saúde este tipo de abordagem está apenas a começar, mas já há vários programas a operar, por exemplo na área de consciencialização sobre doenças.

Outro exemplo é uma empresa sueca Furhat Robotics, que trabalha em IA emocionalmente inteligente em áreas que vão da educação e da assistência, passando pela saúde dos idosos e pela terapia cognitiva. A empresa usa o que apelida de ‘robótica social’ para criar robots que não realizam apenas tarefas, mas também se envolvem com os utilizadores de maneira a que eles entendam.

O futuro

‘Eu imagino que a inteligência artificial emocional se tornará a interface-padrão entre os humanos e as máquinas’ afirmou a cientista de dados egípcia Rana El Kaliouby. Esta cientista, considerada uma líder global pelo Forum Económico Mundial, fundou a Affectiva, uma empresa fundada há uma década que criou e treina um tipo de I.A. capaz de ler expressões faciais e tons de voz. ‘Começámos com teclados e agora grande parte do interface com o utilizador baseia-se nos ecrãs táteis, sendo que os interfaces de voz são cada vez mais comuns. Acho que, no futuro, a tecnologia também terá perceção, assim como os humanos têm visão e audição. O componente emocional da I.A. permitirá que a tecnologia entenda as pessoas e compreenda suas emoções’, disse.

A Comissão Europeia lançou um conjunto de guias para ajudar os Estados-membros a criar sistemas autónomos ‘de confiança’. Estes devem proteger as pessoas de algoritmos que discriminam com base na idade, género, ou etnia, e garantir a autonomia humana, dado que as questões éticas são muitas nestas matérias e vão evoluindo todos os dias com o próprio desenvolvimento tecnológico.

O que pode acontecer a longo prazo não é fácil de prever. No entanto, e por agora, tudo nos indica de que há fortes hipóteses de que a IA emocionalmente inteligente tenha um impacto significativo na saúde e em todos os tipos de setores e serviços.

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