História da Farmácia no Mundo: As sociedades pré urbanas
O emprego para fins curativos de plantas e de substâncias de origem animal data, de acordo com vários antropólogos, do Paleolítico ou idade da pedra lascada, o primeiro dos três grandes períodos em que se subdivide a idade da pedra, podendo ser visualizada a sua localização na Pré-história na figura acima. O estudo das paleomedicinas, a medicina e farmácia das sociedades pré-históricas, é feito usualmente por analogia com outras sociedades sem escrita que ainda subsistem ou subsistiam nos tempos modernos, dada a escassez de fontes arqueológicas. Estas últimas resumem-se praticamente aos tecidos ósseos, donde resulta algum conhecimento das práticas de trepanação craneana e dos hábitos alimentares. A trepanação ou perfuração dos ossos do crâneo deixou marcas em largas centenas de crâneos do Paleolítico japonês, do Neolítico europeu e ainda do Peru, desde o segundo milénio a.C., sobrevivendo a sua prática até recentemente em algumas comunidades isoladas e de povos primitivos.
A Medicina Primitiva
Ao conjunto das crenças e práticas relacionadas com a saúde utilizadas por estes povos é dada a denominação de Medicina Primitiva, a qual se baseia, do ponto de vista da terapêutica, numa forte componente psicológica baseada em crenças e ritos mágicos, aliada ao emprego de plantas medicinais. As populações do Paleolítico, embora tivessem uma esperança de vida curta, não sofriam, devido ao seu estilo de vida nómada, das mesmas doenças que virão a afetar as sociedades sedentárias e urbanas. A baixa densidade populacional, o facto de não se manterem nos mesmos locais o tempo suficiente para contaminar os solos e os cursos de água e a inexistência de animais domesticados que funcionassem como reservatórios, reduziam drasticamente o perigo das doenças infeciosas.
O fim do período glaciar
Com o fim do último período glaciar (Pleistoceno), a humanidade começou a compensar a escassez de caça com o início do cultivo de alimentos e da domesticação de animais. Esta utilização de novos recursos originou uma explosão demográfica e trouxe consigo as sociedades urbanas, com uma maior divisão do trabalho e uma estrutura social mais complexa, que desembocaria brevemente no aparecimento da escrita, mas trouxe também um grande rol de novas doenças humanas. O gado bovino forneceu alimentos, mas também a tuberculose e a varíola, entre outras doenças. Os porcos e as aves forneceram a suas gripes. A sedentarização e o desenvolvimento da agricultura também facilitaram a disseminação de doenças ligadas ou transmitidas por parasitas e insetos, como o paludismo. Este processo de contaminação ligado ao aparecimento de novos processos tecnológicos de obtenção de alimentos continua na atualidade, como o mostra o problema da BSE e da gripe das aves. Para além do mais, como acontece hoje, estas novas doenças humanas transmitiam-se muito mais facilmente em sociedades de grande densidade demográfica e de fácil contaminação ambiental. O impacto das novas doenças epidémicas nas primeiras sociedades urbanas foi tal que a sua marca sobreviveu na tradição oral e escrita, como a que se refere às Sete Pragas do Egipto referidas no Antigo Testamento.
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