À conversa com… Carlos Godinho e Catarina Simões-Lopes
- As pessoas que têm animais chegam à farmácia com dúvidas sobre medicação e forma de a administrar porque confiam no farmacêutico?
Primeiramente, os donos dos animais chegam à Farmácia quando ganham consciência que a Farmácia também tem disponíveis medicamentos e produtos veterinários. Actualmente, ainda existe um número considerável de consumidores que desconhece a venda desta categoria dentro das Farmácia. Daí, a importância de as Farmácias divulgarem os seus serviços em veterinária. Algo tão simples como espaço de linear dedicado, pode fazer toda a diferença. Uma vez ultrapassada esta barreira, as dúvidas sobre medicação e administração de medicamentos e produtos veterinários são inerentes e naturais. As pessoas compram veterinária nas Farmácias pela garantia de aconselhamento apropriado, assim como pela conveniência de as Farmácias serem um espaço de saúde para toda a família, incluindo na família os amigos de quatro patas. As dúvidas sobre a utilização dos produtos surgem muitas vezes no acto da compra e por isso é essencial garantir que as equipas das Farmácias estão preparadas para esta oportunidade, através de formação especializada e pela escolha e selecção de um sortido de medicamentos e produtos veterinários adaptado à realidade e necessidades de cada Farmácia.
- Quais as situações/tratamentos que levantam mais dúvidas e que vos são endereçadas, pelas Farmácias, na linha de suporte ao aconselhamento?
Sem dúvida alguma, as questões mais frequentes são relativas aos Antiparasitários. Esta categoria de produtos é uma das categorias de veterinária mais vendida no canal e por isso é essencial as Farmácias manterem-se a par de todas as novidades do mercado, assim como serem tecnicamente apoiadas no aconselhamento das diferentes soluções disponíveis. Esta é uma área com uma oferta cada vez maior e mais generalizada, surgindo todos os anos novas opções e medicamentos, assim como novas formas de administração e dúvidas sobre antiparasitários.
No entanto, a tipologia de dúvidas que surge é muitas vezes influenciada pelo enquadramento sociodemográfico da região de cada Farmácia. Na veterinária existem claramente dois perfis de consumo de acordo com regiões mais rurais ou regiões urbanas. Em regiões rurais, aparecem muitas questões relacionadas com pequenas produções de animais de consumo humano e, muitas vezes, a Farmácia é o primeiro ponto de contacto. Durante 2020, verificámos que a pandemia veio aumentar a produção de animais para consumo próprio e temos recebido um número crescente de dúvidas sobre estas temáticas.
Por outro lado, em ambientes mais urbanos, questões relacionadas com o bem-estar dos animais de companhia, nomeadamente com prevenção do envelhecimento ou gestão comportamental dos animais, têm vindo a aumentar.
- Os utentes mostram-se surpresos por a farmácia já lhes proporcionar este tipo de produtos e aconselhamento?
Sim. Durante 2019 realizámos um estudo ao consumidor e 42% dos inquiridos desconhecia que as Farmácias vendiam produtos de veterinária e, para muitos, esta pode ser uma agradável surpresa. No momento em que as Farmácias começam a divulgar mais a disponibilidade deste tipo de produtos, o interesse dos utentes é inerente e natural pela relação de proximidade e confiança já estabelecida, para todas as outras áreas e categorias trabalhadas pelas Farmácias. Apostando em formação e capacitação das equipas, esta é uma oportunidade excelente de desenvolvimento de uma nova categoria na Farmácia.
- Notam uma tendência social crescente em proporcionar mais e melhores cuidados aos animais?
Segundo dados da Pordata, em 2017, 54% dos lares portugueses possuem pelo menos um animal de companhia. E, como tal, a área da veterinária é uma área de crescimento e especial interesse. Existe uma preocupação crescente com o bem-estar animal, e existem igualmente estudos que apontam para uma tendência de humanização dos animais de companhia, criando espaço para novas soluções, produtos e áreas de negócio. Segmentos de mercado como a higiene e cuidado e a suplementação animal, têm vindo a crescer de ano para ano, acima do crescimento total do mercado de veterinária, demonstrando a crescente preocupação dos tutores com os seus animais de companhia. Não nos podemos esquecer que, também em Portugal esta tendência se tem sentido, e reflexo disso são as próprias alterações legislativas que se verificaram nos últimos anos, relativamente ao registo de animais, normas de prevenção ao abandono e à própria classificação legal dos animais de companhia, por exemplo. Cada vez mais fala-se do conceito de saúde única, e a preocupação com a saúde e bem-estar dos nossos animais é sinónimo de preocupação com a saúde e o bem-estar de toda a família.
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