A mulher na Farmácia em Portugal

A mulher na Farmácia em Portugal: um percurso ascendente num mundo em transformação

A 8 de Março comemora-se o Dia Internacional da Mulher, momento em que naturalmente celebramos também o contributo inestimável da mulher para o setor farmacêutico.

 

Maria Nunes: a primeira farmacêutica em Portugal vem da Idade Média

Diz-nos a investigação histórica que Portugal se distinguiu pela existência de mulheres boticárias, fenómeno singular na Península Ibérica. A mais antiga referência diz respeito a uma boticária em Lamego em 1326, Maria Nunes, mas nada sabemos sobre o seu verdadeiro estatuto ou funções profissionais. Nos séculos XV e XVI surgem outras referências a mulheres boticárias, ligadas a senhoras da alta nobreza, a quem serviam na qualidade de responsáveis pelas respetivas boticas, e de manipuladoras de medicamentos e preparados que utilizavam técnicas afins, como as conservas.

Sabe-se, por exemplo, que a Rainha D. Joana (1462-1530) mulher de D. Afonso V, tinha ao seu serviço como boticária, Isabel de Sequeira. E que também D. Brites, mãe de D. Manuel, duque de Beja e futuro rei de Portugal, tinha como sua boticária Isabel Lopes, cuja botica era tão bem equipada com material farmacêutico que, após a morte de D. Brites, a botica e a boticária foram transferidas para o Hospital de Beja.

Trotula, uma autora da Escola de Salerno

Das obras nascidas da Escola de Salerno (primeira e importante escola de medicina medieval na Europa), durante os séculos XII e XIII, são citadas algumas obras, como o Tractatus de Aegritudinum Curatione, uma obra coletiva onde se reúnem os ensinamentos sobre medicina geral de vários mestres de Salerno. Entre os autores citados, encontra-se uma mulher, Trotula, a quem se deverá parte da obra De passionibus mulierum, que trata de ginecologia, obstetrícia e cosmética.

Um percurso sinuoso

O investigador José Pedro Sousa Dias conta, em A Farmácia e a História, que apesar da existência de boticárias em Portugal nos séculos anteriores, as mulheres farmacêuticas ainda tiveram algumas dificuldades em imporem-se no nosso país no século XIX.

Desde o princípio do século que continua a ser registada a atividade de farmacêuticas, algumas provenientes de conventos, mas outras vindas de farmácias laicas. Apesar disso, cita-se o exemplo da praticante Maria José Cruz de Oliveira e Silva, de Lavos (Figueira da Foz), que ainda foi obrigada a dirigir um requerimento ao rei, pedindo autorização para fazer exame de farmácia na Universidade de Coimbra.

Deste resultou uma portaria de 1860 que afirmava não haver lei nenhuma no país que proibisse às mulheres o estudo da Medicina ou da Farmácia, nem incompatibilidade da prática farmacêutica com o género feminino. Maria José Cruz de Oliveira e Silva acabaria por fazer exame e ser aprovada em 1869 e outras praticantes mulheres foram também a exame nas três escolas de farmácia na segunda metade do século.

Em 1947, Maria Serpa dos Santos, natural do sítio do Mirante, freguesia da Conceição, concelho da Horta (Açores), terá sido a primeira mulher a doutorar-se em farmácia em Portugal. Foi professora e investigadora da Faculdade de Farmácia de Coimbra.

A mulher é vencedora na farmácia contemporânea

As mulheres farmacêuticas não pararam mais e, na atualidade, oitenta por cento dos farmacêuticos inscritos na Ordem dos Farmacêuticos (OF), são mulheres.

São muitas as profissionais a ocupar lugares de topo nas empresas farmacêuticas, bem como em organizações internacionais, representando o que de melhor se faz em Portugal e no mundo.

Esta tendência vem acompanhada de um aumento salarial nas mulheres dentro deste setor. Embora, como em muitos países do mundo ocidental, e em todas as profissões, subsistam desigualdades estatísticas que não se podem desconsiderar, verifica-se também que existe já um número significativo de mulheres neste setor com salários superiores aos dos seus colegas homens.

O setor farmacêutico terá, pois, cada vez mais a preocupação de apostar, formar e reter os melhores profissionais independentemente da etnia, religião ou género.

Só para referir o caso português, entre as muitas dirigentes e mulheres em lugares de topo do setor, poderemos citar, por exemplo, o caso de Ema Paulino, que se tornou, em 2013, a primeira mulher a entrar na cúpula dirigente da Federação Internacional Farmacêutica (FIP), em 101 anos de história desta instituição, no cargo de secretária profissional da FIP – posição que ainda hoje ocupa.

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