As mulheres na História da Farmácia
A História da Farmácia e do medicamento é tão antiga como a História da Humanidade. Desde há milhares de anos que os humanos tentam criar fórmulas e técnicas para curar doenças e ferimentos: recorrendo a especiarias ou mezinhas, passando pelos boticários e pela utilização de plantas medicinais até, mais tarde, ao nascimento da ciência médica e farmacêutica tal como conhecemos hoje.
As mulheres, mesmo que nem sempre com o destaque merecido, tiveram um papel crucial no desenvolvimento da Farmácia. Seja porque durante séculos foram elas que cuidaram dos filhos, dos mais velhos e da comunidade – criando preparados ou receitas caseiras, ou por terem acedido, já no século XIX, aos estudos universitários e contribuído daí em diante decisivamente para o desenvolvimento do setor farmacêutico e da investigação científica.
Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, vamos conhecer melhor o contributo feminino para o desenvolvimento da Farmácia.
A mulher e os cuidados básicos
Na Europa medieval, a medicina era praticada por homens e a as consultas de saúde, devido ao preço e à escassez, não eram um bem acessível a grande parte da população. Na maioria das vezes eram as mulheres que forneciam os primeiros cuidados, farmacêuticos, higiénicos e médicos.
As mulheres eram consideradas pessoas com dotes inatos para o cuidado dos demais. Por isso, as donas de casa e as filhas mais velhas da família tinham regularmente uma certa preparação médica e farmacêutica de acordo com os conhecimentos da época. As indisposições, uma queixa de uma criança ou um acidente doméstico eram resolvidos em primeiro lugar pelas mulheres da família.
Embora a arte farmacêutica fosse uma atividade praticamente masculina até ao século XX, deve sublinhar‐se que não era apenas realizada por homens. Durante séculos, as freiras assumiram o cuidado de pessoas doentes, que eram levados a cabo com recurso a plantas medicinais muitas vezes cultivadas no jardim do convento.
O caso português
A investigação histórica revela-nos que Portugal foi um país precursor no que diz respeito à existência de mulheres boticárias. Apesar de existirem poucas informações sobre as suas funções, a mais antiga referência de uma farmacêutica diz respeito a uma boticária em Lamego, em 1326: Maria Nunes de seu nome.
Já nos séculos XV e XVI começam a surgir mais referências a mulheres boticárias que trabalhavam para senhoras da alta nobreza, na manipulação de medicamentos e preparados. É o caso de Isabel de Sequeira, boticária que esteve ao serviço da Rainha D. Joana, mulher de D. Afonso V. Ou ainda Isabel Lopes, que debaixo da tutela de D. Brites, mãe de D. Manuel, criou uma botica extremamente bem equipada para a época.
As primeiras farmacêuticas
O ensino superior farmacêutico surgiu no século XIX. Em Portugal, foram criadas em 1836, as Escolas de Farmácias anexas à Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e às Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e Porto.
Contudo, o acesso aos estudos não foi imediatamente igual para homens e mulheres. Maria José Cruz de Oliveira e Silva, de Lavos (Figueira da Foz), na condição de praticante de farmácia, foi obrigada a dirigir um requerimento ao rei, pedindo autorização para fazer exame de farmácia na Universidade de Coimbra.
Deste episódio resultou um avanço fundamental: uma portaria do ano de 1860 que afirmava não haver lei nenhuma no país que proibisse às mulheres o estudo da Medicina ou da Farmácia, nem incompatibilidade da prática farmacêutica com o género feminino. Maria José Cruz de Oliveira e Silva foi a exame e obteve aprovação; até final do século XIX outras praticantes mulheres tiveram acesso à realização do exame.
Do século XX à atualidade
Laura Campos foi uma das primeiras mulheres licenciadas, ao concluir em 1920 o Curso Superior de Farmácia, com 18 valores. Em 1947, Maria Serpa dos Santos, terá sido a primeira mulher a doutorar-se em farmácia em Portugal, tornando-se professora e investigadora da Faculdade de Farmácia de Coimbra. Na era da revolução farmacológica, muitas outras mulheres contribuíram para o desenvolvimento científico, como foi o caso de Odette Ferreira (1925-2018), farmacêutica e investigadora pioneira do estudo da SIDA em Portugal.
Na atualidade, os cursos de Farmácia são amplamente frequentados por mulheres e cerca de 80% dos farmacêuticos inscritos na Ordem dos Farmacêuticos são pessoas do sexo feminino. Nos cargos de liderança, as mulheres ocupam cada vez mais os lugares de decisão nas empresas farmacêuticas, pelo que continuarão a escrever a sua História e da Farmácia.
Fontes:
https://www.ordemfarmaceuticos.pt
https://hamaisvida.pt/a-mulher-na-farmacia-em-portugal/
https://www.ecoceutics.com/las-mujeres-en-la-historia-de-la-farmacia/