As profissões da área farmacêutica na Grécia e em Roma
Grécia
Embora as ocupações na área da saúde não apresentassem qualquer grau de profissionalização ou diferenciação definido, na Antiguidade Clássica já existia alguma forma, embora muito rudimentar e imprecisa, de divisão de trabalho entre os que lidavam com medicamentos. Na Grécia eram várias as denominações utilizadas para os profissionais que lidavam com medicamentos, para além dos médicos (iatroi). Os mais comuns seriam os pharmakopoloi (singular pharmakopolos), ou vendedores de medicamentos, que teriam igualmente outras funções no campo sanitário e cujo estatuto social e cultura não seriam elevados. Já o mesmo não se passaria com outro grupo distinto do anterior, os rhizotomoi (sing. rhizotomos), ou cortadores de raízes, de importância e estatuto mais elevados, e cuja preparação e nível de conhecimentos seria igualmente maior. Dos pharmakopoloi não se conhecem nem nomes nem obras, contrariamente ao que acontece com os rhizotomoi. Um destes, Crateuas, escreveu um texto sobre matéria médica, ao qual se referiram elogiosamente Dioscórides e Galeno. Crateuas trabalhou para o rei do Ponto Mitridates VI (120-63 a.C.). Outros grupos no campo farmacêutico incluíam os pharmakopoeoi (sing. pharmakopoeos), preparadores de medicamentos, os myropoeoi e os myrepsoi (preparadores de unguentos), os migmatopoloi (vendedores de misturas), os aromatopoloi (vendedores de especiarias) e os muropoloi (vendedores de mirra).
Os próprios médicos não apresentavam um estatuto definido: a maioria pertencia ao grupo social baixo dos artesãos e apenas um pequeno número de médicos se aproximava dos estratos sociais superiores, partilhando da intimidade e do respeito da elite social e intelectual grega. Hipócrates pertencia a esta minoria. A sociedade grega, baseada no trabalho escravo, considerava o trabalhador manual, cheir ourgos, como muito inferior ao que se dedicava ao cultivo do intelecto, o que explica que no Juramento de Hipócrates se introduza a proibição do uso da faca pelo médico, o que não é mais que uma manifestação da tendência para a ascensão da medicina através da separação das componentes funcionais que implicavam trabalho manual, como a cirurgia. Esta tendência terá o seu ponto mais alto na Idade Média com a ascensão da medicina ao ensino nas universidades, acompanhada da clara demarcação em relação à cirurgia e à farmácia, que permanecem como atividades mecânicas.
Roma
Em Roma, os preparadores e vendedores de medicamentos, drogas e cosméticos eram conhecidos por pharmacopoli (sing. pharmacopolus) e os pharmacopoei (sing. pharmacopoeus) – formas latinas de pharmakopoloi e pharmakopoeoi – os pharmacopoli circumforanei (vendedores itinerantes de medicamentos), os sellularii (vendedores de medicamentos estabelecidos em lugar fixo, o oposto dos circumforanei), os seplasiarii (denominação equivalente à anterior, com origem em seplasia, rua em Capua onde se vendiam unguentos e drogas orientais), os medicamentarii (preparadores de medicamentos), os unguentarii (preparadores de unguentos, equivalente ao grego myropoeoi e myrepsoi), os aromatarii (vendedores de especiarias, especieiros), os pharmacotribae ou pharmacotritae (trituradores de drogas), os pigmentari, de pigmentum (corante, cor), preparadores de cosméticos e os herbarii (vendedores de ervas). Em Roma, os médicos eram de origem grega até finais da antiguidade. Primeiro foram levados como escravos e depois eram homens livres, mas sempre estrangeiros.