Dia Mundial da Doença de Alzheimer
O Dia Mundial da Doença de Alzheimer, comemora-se a 21 de Setembro. A Doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência e caracteriza-se pela perda gradual e irreversível de determinadas funções cerebrais, nomeadamente memória, atenção e linguagem, entre outras.
A progressão da doença é lenta e ocorre à medida que as células cerebrais diminuem em tamanho e número e a comunicação entre elas se reduz. Assim, as células acabam por morrer, o que se traduz em perda de memória.
A Organização Mundial de Saúde estima que em todo o mundo existam 47,5 milhões de pessoas com demência, sendo que 60 a 70% destes casos são Doença de Alzheimer. Em Portugal existem cerca de 180.000 casos de demência, dos quais 130.000 são pessoas com Doença de Alzheimer.
Doença de Alzheimer e descobertas recentes
Muito se tem falado sobre a doença e os seus sintomas e consequências para doentes e famílias têm sido bastante divulgados nos últimos anos.
Há poucos anos, em 2013, um importante estudo, publicado na Revista Science, avançou na compreensão das funções biológicas do sono e ajudou a explicar porque passamos um terço da vida a dormir. A pesquisa liderada por Maiken Nedergaard, da faculdade de Medicina da Universidade de Rochester, em Nova Iorque, mostrou que o cérebro tem diferentes estados de funcionamento durante os períodos de vigília e de sono. A natureza reparadora do sono resultaria da eliminação de resíduos produzidos pela atividade neuronal e que se acumulam no período de vigília. O referido mecanismo de limpeza, integrado no sistema sanguíneo impulsiona o fluido cefalorraquidiano através dos tecidos, purificando-o.
Em experiências de laboratório feitas em ratos, os cientistas viram como o lixo celular era retirado do cérebro através de vasos sanguíneos para o sistema circulatório do corpo primeiro e, depois, para o fígado, onde são eliminados. A eliminação das toxinas no cérebro é essencial, visto que seu acúmulo na forma de proteínas tóxicas pode provocar doenças. A Ciência pôde comprovar assim que quase todas as patologias neurodegenerativas estão vinculadas ao acumular de dejetos celulares.
Entre os dejetos eliminados nas cobaias de laboratório estavam a proteína beta amiloide, que quando se acumula é um gatilho para o aparecimento da doença de Alzheimer, por exemplo.
Novidades num estudo de 2019
Já este ano voltou a ser publicado novo estudo, na revista Nature, sobre uma rota definida para eliminar os fluídos e moléculas em excesso no cérebro. Este é um sistema de drenagem que, com a idade, pode perder eficácia e levar a doenças neurodegenerativas, como Alzheimer.
De forma simples, esta descoberta revela um verdadeiro sistema de drenagem linfática no cérebro de que ainda se sabe pouco. Esta equipa de cientistas identificou a rota deste circuito que envolve uma complexa rede de vasos linfáticos meníngeos na base do cérebro.
Os vasos linfáticos meníngeos surgem, aqui, como parte da solução por serem uma espécie de agentes de limpeza do cérebro. Outra das conclusões foi que acumulamos o referido lixo cerebral desde sempre, e não só em idades mais tardias ou em contextos específicos.
A principal novidade deste trabalho é ter chegado a informação mais clara sobre o desenvolvimento de algumas doenças neurodegenerativas e de pistas para possíveis tratamentos. Concluiu que tratamos o nosso ‘lixo cerebral’ na base do crânio onde trabalham os vasos linfáticos meníngeos. Há cerca de quatro anos, os cientistas perceberam que existia uma rede de vasos (vasos linfáticos meníngeos) na membrana externa do cérebro que serviam para regular o equilíbrio de líquido, drenando-o de macromoléculas. No entanto, a tarefa de explorar um subconjunto de vasos presos dentro de estruturas cerebrais complexas não era fácil e, até agora, a rota específica da drenagem do líquido cefalorraquidiano ficou por esclarecer.
Depois de analisar o que acontecia na base do crânio em experiências realizadas com ratinhos, o autor do estudo, Gou Young Koh, do Instituto de Ciência e Tecnologia da Coreia, na Coreia do Sul, e a sua equipa, visualizaram a localização precisa dos vasos linfáticos meníngeos basais e identificaram características especializadas que facilitam a captação e a drenagem do líquido.
Os testes incluíram várias comparações. Por um lado, analisaram a estrutura e função dos vasos linfáticos meníngeos da área basal e dorsal do cérebro, constatando que os mais aptos para a drenagem eram de facto os basais. Por outro lado, os investigadores compararam também a estrutura e a função dos vasos em animais jovens (três meses de idade) e idosos (24-27 meses de idade), “descobrindo um declínio na integridade dos vasos e depuração do líquido cefalorraquidiano associado à idade”.
O próximo passo será o de descobrir uma forma de travar os danos causados pelo envelhecimento ou mesmo revertê-los. “Acreditamos que o rejuvenescimento dos vasos linfáticos meníngeos na base do crânio em indivíduos idosos pode possivelmente promover a drenagem do líquido cefalorraquidiano e a depuração de metabólitos cerebrais tóxicos, o que poderia aliviar ou possivelmente tratar doenças como a doença de Alzheimer”, admitiu Gou Young Koh, em entrevista ao jornal Público, sublinhando que os passos nessa direção exigem mais estudos antes de passar à investigação clínica. O investigador explicou ainda que planeia ampliar este estudo para analisar os vasos linfáticos meníngeos na base do crânio em primatas e em humanos, através de exames de ressonância magnética para observar o líquido cefalorraquidiano.
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