Herbários modernos e jardins botânicos | História da Farmácia
Herbários modernos e jardins botânicos
Para melhor compreender este tema, comecemos por uma contextualização teórica daquilo que é um herbário: os herbários são coleções biológicas nas quais consta material de referência para que seja possível identificar ou preservar plantas, fungos ou algas[1]. A sua importância, todavia, transcende a função de repositório, considerando que refletem contextos para além da esfera científica, espelhando políticas de desenvolvimento governamental, educacional e económico de um país. Os herbários são considerados importantes ferramentas no ensino e divulgação do conhecimento botânico, em vários contextos académicos e profissionais, servindo como um centro de documentação, bem como um depósito de dados de elevada relevância tanto para investigadores como cidadãos comuns.[2].
As herborizações, durante séculos, fizeram parte do programa curricular no ensino da botânica. Esta visível importância do tema levou a que surgissem jardins botânicos e cátedras universitárias, com finalidade académica e de investigação, bem como os primeiros didatas do tema. Exemplo disso é Pádua onde, em 1533, se reconhece o primeiro professor de botânica. É nesta mesma época que surgem várias obras essenciais, até hoje, nas quais se destacam: o médico e botânico alemão Otto Brunfels (1489-1534) com a obra “Herbarum vivae eicones” (1530); o médico e professor Leonhard Füchs (1501-1566) com a obra “De história stirpium” (1542), entre outros autores como William Turner (1508-1568), John Gerard (1545-1612), Rembert Dodoens (1516-1585) e Mathieu de l’Obel (1538-1616).
Numa perspetiva histórica e científica, os Herbários servem não só para investigação taxonómica e sistemática de temas como evolução, biodiversidade, conservação, ecologia ou alterações climáticas, como constituem, por si só, um objeto de estudo. É com este intuito – de cultivo e estudo, que surgem os primeiros jardins botânicos em várias cidades alemãs, italianas, holandesas e francesas, tendo sido essenciais para as farmácias locais, ao promover o estudo e fornecimento das espécies. Considerando as limitações da época, sazonais e geográficas, era um difícil desafio manter as plantas vivas para serem estudas, pelo que se recorreu à herborização – uma técnica difundida desde 1530, com o nome de hortus siccus.
Drogas e política
O Renascimento é opulento naquilo que é o processo intelectual e político do conhecimento botânico. A análise da obra de Dioscórides é fundamental na época, tendo como base a flora mediterrânica e drogas provenientes do Oriente, que atravessavam o mar e despertavam interesses, por exemplo dos protestantes alemães, por desejarem independência das matérias-primas da Europa católica do Sul (cidades estado italianas) que dominavam todo este comércio. Esta análise da obra é centralizada em Mattioli, e conta com uma rede informal do qual faziam parte farmacêuticos, botânicos, médicos, mercadores, viajantes e diplomatas, seguindo-se depois Praga e Innsbruck. Este grupo contou com colaborações como Luca Ghini (1490-1556), professor de botânica e fundador do jardim botânico de Pisa (1544), e Ulisse Aldrovandi (1524-1607), fundador do jardim de Bolonha (1568).
É possível assim compreender que os herbários modernos e os jardins botânicos foram, são e serão, essenciais na compreensão de assuntos de vários âmbitos, ao materializarem uma interconexão de temas, e ao promoverem uma aprendizagem globalizada, com consciência histórica e cívica.
[1]. Vieira, C. V., & Viegas, S. (2019). Os Herbários como recursos educativos dinâmicos e interdisciplinares. História da Ciência e Ensino: construindo interfaces, 20, 638-656.
[2]. H. L. Ballard, et al. “Contributions to Conservation Outcomes by Natural History Museum-Led Citizen
Science: Examining Evidence and Next Steps.” Biological Conservation 208 (2017/04/01/ 2017). 87
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