História da Farmácia no Mundo: As escolas pré-hipocráticas e Hipócrates
As escolas pré-hipocráticas
As doutrinas de Pitágoras, Alcméon e Empédocles foram assimiladas e desenvolvidas em várias escolas médicas como a de Knidos, Crotone e Kos, algumas em locais onde existiram importantes templos de Asclépio. Na escola de Kos, onde Hipócrates foi aluno, desenvolveu-se pela primeira vez a ideia de uma patologia geral, oposta à ideia até aí prevalecente de que as doenças se encontravam limitadas apenas a um dado órgão. Segundo esta escola, os processos morbosos eram devidos a uma reação da natureza a uma situação de desequilíbrio humoral, sendo constituídos por três fases: a apepsia, caracterizada pelo aparecimento do desequilíbrio, a pepsis, onde a febre, a inflamação e o pus eram devidos à reação do corpo, e a crisis ou lysis, onde se dava a eliminação, respetivamente brusca ou lenta, dos humores em excesso.
Hipócrates
Hipócrates de Kos (460-370 a.C.) nasceu nesta ilha grega, sendo filho de um asclepíade de nome Heráclides, de quem recebeu a formação médica básica. Foi contemporâneo de Péricles, de Empédocles, Sócrates e Platão, entre muitas outras figuras do florescimento intelectual ateniense. Sócrates e Aristóteles referiram-se elogiosamente a Hipócrates.
É tradicionalmente atribuída a Hipócrates uma vasta obra constituída por 53 livros, reunidos em Alexandria por Baccheio no século III a.C., constituindo o chamado Corpus Hippocraticum, mas sabe-se hoje que só uma parte dessa obra foi escrita por Hipócrates, sendo os restantes livros oriundos das escolas de Knidos, Kos e Crotone, mas próximas dos seus ensinamentos.
Patologia geral, terapêutica e ética hipocráticas
A fisiologia de Hipócrates e, portanto, a sua patologia geral, segue as teorias dominantes na escola de Kos, segundo as quais a vida era mantida pelo equilíbrio entre quatro humores: Sangue, Fleuma, Bílis amarela e Bílis negra, procedentes, respetivamente, do coração, cérebro, fígado e baço. Cada um destes humores teria diferentes qualidades: o sangue era quente e húmido, a fleuma era fria e húmida, a bílis quente e seca e a bílis negra fria e seca. Segundo o predomínio natural de um destes humores na constituição dos indivíduos, teríamos os diferentes tipos fisiológicos: o sanguíneo, o fleumático, o bilioso ou colérico e o melancólico. A doença seria devida a um desequilíbrio entre os humores, tendo como causa principal as alterações devidas aos alimentos, os quais, ao serem assimilados pelo organismo, davam origem aos quatro humores. Entre os alimentos, Hipócrates incluía a água e o ar. A febre seria devida à reação do corpo para cozer os humores em excesso. O papel da terapêutica seria ajudar a physis a seguir os seus mecanismos normais, ajudando a expulsar o humor em excesso ou contrariando as suas qualidades. Deu grande importância à dieta, aos exercícios corporais e utilizou as ventosas e mesmo a sangria, embora não lhes atribuísse a importância que vieram posteriormente a ter. Os medicamentos eram encarados como um recurso secundário.
Hipócrates é considerado o fundador da ética médica, sendo o seu nome associado ao Juramento ainda utilizado em vários países, embora com adaptações várias, pelos médicos recém-licenciados. Este juramento parece ser anterior ao próprio Hipócrates e constituir um contrato entre um aluno e o seu mestre médico.
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