A Matéria Médica no Renascimento | História da Farmácia
A Matéria Médica no Renascimento
Dioscórides
Da mesma forma que aconteceu com a anatomia, a matéria médica e a botânica ganharam uma nova perspetiva durante o Renascimento. O percurso das duas disciplinas apresenta muitos pontos comuns. Até cronologicamente: a obra mais emblemática da botânica renascentista, a De Historia Stirpium de Leonhard Füchs (1501-1566), foi impressa na mesma cidade de Basileia que o livro de Vesalius, precisamente um ano antes. O movimento inicia-se com o interesse pelo estudo direto dos autores clássicos. As obras de Galeno, Dioscórides e Plínio encontravam-se disponíveis durante a Idade Média, mas o seu estudo era normalmente feito através de autores árabes, como o Canon de Avicena ou o Aggregator de Simplicibus de Serapião. As compilações elaboradas por estes autores apresentavam várias vantagens, como a síntese entre as complementaridades de Galeno e Dioscórides, dado que o De Simplicibus do primeiro discute a teoria das plantas medicinais mas não as descreve, enquanto a Materia Medica do segundo contém exatamente o oposto. A primeira obra botânica a ser alvo da atenção dos humanistas foi a de Teofrasto, aluno de Aristóteles praticamente desconhecido no Ocidente cristão. Os manuscritos das suas Historia Plantarum e De Causis Plantarum, foram obtidos a partir de um lote de manuscritos gregos trazidos de Constantinopla no início século XV e traduzidos por volta de 1450 por Theodorus Gaza para o Papa Nicolau V. Esta tradução foi impressa em 1483 e o texto grego em 1497. De um autor já bem conhecido, a Historia Naturalis de Plínio foi impressa em Veneza, em 1469.
Dioscórides foi impresso em 1478 (por P. d’Abano) e em 1512, seguindo uma versão alfabética medieval. A sua primeira edição em grego foi impressa em 1499 (por H. Roscius). A partir de 1516, este autor foi objeto de um grande número de edições, traduções e comentários. O veneziano Ermolao Barbaro (1454-1493), professor de filosofia em Pádua, embaixador e Patriarca de Aquileia, foi o autor da edição póstuma do Dioscorides… Medicinali Materia (Veneza, 1516), traduzida do grego para o latim. Jean de Ruelle (1474-1537), professor da Faculdade de Medicina de Paris, também foi o autor de influentes edições latinas de Scribonius Largus e Dioscórides (Paris, 1516). O mais destacado tradutor e comentador de Dioscórides foi o médico Pier Andrea Mattioli (1501-1577).
Neste movimento também participou o médico português Amato Lusitano. De seu nome João Rodrigues de Castelo Branco (1511-1568), dedicou grande atenção ao estudo da Matéria Médica de Dioscórides, em obras como o Index Dioscoridis (1536) e In Dioscoridis … Materia Medica… enarrationes (1553). As correções feitas por Amato a algumas traduções feitas por Mattioli levaram a uma violenta reação deste, acompanhada da denúncia das origens judaicas de Amato, que obrigaram o português a exilar-se de Ragusa (Ancona) para Salónica. A principal edição ibérica de Dioscórides foi a de Andrés Laguna (1511-1559), feita a partir da de Jean de Ruelle, intitulada Pedacio Dioscorides… Materia medicinal (Antuérpia, 1555). As obras de Galeno, em latim e grego, foram objeto de várias edições a partir de 1520.
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