Evolução Histórica da Farmácia: Os Primeiros Boticários
A história da farmácia é rica no mundo, como é rica em Portugal, e ajuda a compreender tanto o desenvolvimento da profissão, como nos relembra os hábitos e a mentalidade da sociedade em cada época.
Os primeiros boticários surgiram em Portugal ainda no século XIII, mas antes destes já existiam os especieiros, os seus antecessores. As especiarias tiveram, na Idade Média, uma utilização generalizada para fins terapêuticos, quer como drogas ativas, quer como corretivos.
O açúcar, incluído nesta categoria, tinha grande destaque, para tornar ‘deglutíveis’ muitas substâncias de péssimo sabor usadas na terapêutica da época.
Um dos primeiros exemplos da importância e uso das especiarias na literatura medieval é atribuído a Pedro Hispano, o célebre Papa português, no seu Thesaurus Pauperum.
Havia um subgrupo entre os especieiros, os teriagueiros, vendedores ambulantes de drogas e especiarias. Nestes grupos destacavam-se judeus, um grupo social abastado, mas perseguido por intolerância religiosa, que foi mesmo proibido de exercer em 1565.
Os boticários surgem posteriormente, tendo coexistido por algum tempo, e a base do seu aparecimento é o estabelecimento de lugares fixos para a venda de medicamentos e todas as regras que a partir daí foram impostas: exames, privilégios, anos de prática, separação obrigatória da profissão médica e outras.
O boticário surge com a botica, cuja origem da palavra é a de armazém ou depósito.
O primeiro documento conhecido respeitante à profissão farmacêutica em Portugal, é um diploma de 1338 promulgado por D. Afonso IV, que estabelecia a obrigatoriedade de os boticários serem examinados pelos médicos do rei.
Uma peculiaridade portuguesa é a existência de mulheres boticárias, fenómeno único na Península Ibérica. A mais antiga referência diz respeito a uma boticária em Lamego em 1326, embora nada se saiba sobre o seu verdadeiro estatuto ou funções profissionais. Nos séculos XV e XVI surgem outras referências a mulheres boticárias, ligadas a senhoras da alta nobreza, a quem serviam na qualidade de responsáveis pelas respetivas boticas e de manipuladoras de medicamentos e preparados que utilizavam técnicas afins, como as conservas.