Um bigode por uma boa causa: O cancro da próstata
É bem verdade que em Portugal o bigode já viu dias gloriosos, como entre as décadas de setenta e oitenta, mas isso foi chão que deu uvas. No entanto, surge em 2003 na Austrália o movimento Movember que começou a reabilitar a moda de usar bigode no encalce de uma causa cara à saúde: o cancro da próstata. A palavra inglesa Movember resulta da aglutinação de ‘moustache’ (bigode) e’ November’ (Novembro). De forma a sensibilizar a opinião pública, a ideia é pedir aos homens que, em nome da doença, deixem crescer o bigode apenas em Novembro, e pedir também às mulheres que o usem como acessório falso em eventos especiais dedicados à prevenção.
Movember é também o nome da fundação que tem como objetivo a consciencialização de alguns problemas de saúde da população masculina, onde se contam também cancro dos testículos, a saúde mental e a prevenção do suicídio. O movimento ganhou muita força na Europa, nomeadamente no Reino Unido, e nos últimos anos Portugal está a aderir, com várias marcas a patrocinarem a responsabilidade social inerente à iniciativa.
O cancro da próstata é uma das neoplasias mais comuns no sexo masculino a nível mundial e, em Portugal, segundo dados do Globocan de 2012, era a que registava maior incidência e a quarta causa de morte por cancro nos homens.
O movimento procura desmistificar o receio que ainda existe à volta dos exames de rastreio, alertando os homens para a importância de realizarem análises periódicas, consultas de rotina e manter um estilo de vida saudável.
Com a chegada do mês de Novembro, e à parte das iniciativas da sociedade civil e de algumas marcas, que incitam a tirar fotos e partilhá-las nas redes sociais, a ONG Movember Foundation vai voltar a desafiar os portugueses a deixarem crescer o bigode como forma de chamar à atenção para este tipo de patologia – tratável se detectada precocemente.
O que se sabe sobre esta patologia, segundo o ponto de vista de profissionais da especialidade, como o urologista Frederico Ferronha em entrevista à ONG Médicos do Mundo, é que o carcinoma da próstata é o tumor maligno mais frequentemente diagnosticado no homem com mais de 50 anos de idade, isto é, cerca de 25% de todos os tumores no homem. Em termos de mortalidade nesta faixa etária, é a segunda causa oncológica a seguir ao pulmão e à frente de cancros como o do cólon e recto, estômago, pele, rim e bexiga. Na Europa são diagnosticados aproximadamente 650 mil novos casos anualmente. Nos Estados Unidos a incidência anual desta doença é de 180 mil doentes/ano e provoca a morte a cerca de 40 mil homens/ano, ou seja, é diagnosticado um caso de cancro da próstata a cada três minutos e a cada 15 morre um doente por causa desta neoplasia.
Neste sentido sabe-se também que “geralmente, as fases iniciais do cancro não causam sintomas, daí a importância do rastreio, pois se o doente estiver à espera de apresentar sintomas para consultar o seu médico, pode ser tarde de mais”.
Actualmente não há outro tipo de prevenção cientificamente provada. Como tal, o rastreio precoce – um exame rectal digital e numa análise laboratorial para o antigénio específico da próstata (PSA) – é a única medida que pode, de facto, fazer a diferença. Não se sugere mais cuidados específicos, para além de uma dieta saudável e equilibrada.
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