Stress: Conheça os níveis em que se encontra e saiba como combatê-lo
A tensão mental é um fator limitante da produtividade numa época em que a carga física de trabalho é cada vez mais convertida em carga mental. À medida que avançamos nesta era da informação e da complexificação das suas redes, mais esta ideia do stress crónico, enquanto fenómeno crescente, patologia e motor de outras doenças, se torna clara.
O burnout é já considerado uma doença pela Organização Mundial de Saúde (OMS), caracterizando-se por um estado de esgotamento físico e mental causado pelo exercício de uma atividade profissional. Desde 1 de janeiro de 2022, o stress profissional entrou para a nova classificação internacional de doenças da OMS, com base nas conclusões de peritos de saúde de todo o mundo.
Como definir?
É uma resposta natural – fisiológica e comportamental – do organismo perante situações que nos façam sentir ameaçados, em situações de grande pressão ou em situações que representem uma perturbação do nosso equilíbrio.
O stress pode ser definido como um estado de sofrimento emocional caracterizado por sintomas de depressão e ansiedade, por vezes associados a queixas físicas.
O stress pode ser positivo?
O fenómeno provoca reações químicas no organismo que levam a reações fisiológicas. Até certo ponto, trata-se de uma estratégia de adaptação do nosso organismo relativamente a mudanças, exigências e constrangimentos que surjam. Essas alterações no organismo podem ser positivas, como por exemplo: se alguém está a passar por períodos de pressão no trabalho, o cérebro percebe e responde com alterações que ajudarão o indivíduo a concluir as suas atividades com eficiência. Em diversas circunstâncias, pode levar-nos a agir positivamente, a combater a letargia e também a defender-nos de perigos. Porém, se o stress persistir por muito tempo, as alterações benéficas passam a ser prejudiciais, manifestando-se no organismo de forma patológica.
A evolução do fenómeno
Em tempos primitivos, aquilo que representava uma ameaça, como por exemplo enfrentar um animal feroz, implicava uma reação física rápida. A explicação está no conjunto de reações automáticas que ocorrem com a ajuda do Sistema Nervoso Autónomo Simpático, que, ao libertar hormonas como a adrenalina e cortisol, prepara o organismo para a ação (luta, fuga ou congelamento) e seria fundamental para assegurar a sobrevivência da espécie.
Nos nossos dias, a hipótese de sermos confrontados com ameaças radicais à sobrevivência física é bastante reduzida, e é bem mais provável que o nosso stress surja de uma situação no contexto de trabalho, de um exame na escola, de relações pessoais difíceis, das horas passadas no trânsito ou de um pensamento perturbador persistente.
No entanto, o nosso corpo reage, na prática, da mesma forma primitiva. Os escapes de luta ou fuga são quase inexistentes e isso implica que não damos uso às referidas hormonas do stress, que continuam a circular no organismo, mantendo-nos em alerta máximo. Consequentemente, o Sistema Nervoso Autónomo Parassimpático não é ativado, o que poderá levar a uma constante hiperestimulação do Sistema Nervoso Simpático, originando problemas como insónias, dores de cabeça, tensão alta, cansaço, irritabilidade, diabetes tipo 2 e muitos outros.
Mindfulness: uma via para combater o stress
Este problema generalizou-se, pelo menos, desde as duas últimas décadas do século passado. Os conselhos dos especialistas, para além das regras base de uma vida saudável – como o respeito pelas horas de sono, a prática de exercício físico regular e a manutenção de relações sociais saudáveis –, recomendam práticas cujos benefícios estão comprovados, como o yoga, a meditação ou o mindfulness.
Esta prática passou a fazer parte da medicina comportamental/preventiva, principalmente a partir dos estudos de redução de stress de Jon Kabat-Zinn, professor emérito da faculdade de Massachussets (EUA), que tem desenvolvido, desde 1979, intensa pesquisa científica da aplicação do mindfulness na saúde, em especial do programa de MBSR (Minfulness-Based Stress Reduction).
Hoje, centenas de hospitais encaminham os pacientes para os cursos de MBSR para desenvolverem competências para lidar com a dor física e emocional, uma vez que tem sido cientificamente demonstrado que o MBSR é eficaz, inclusive por via de exames clínicos, como ressonâncias magnéticas, que acusam a ativação de determinadas zonas do cérebro.
Cada vez mais escolas e instituições universitárias usam as práticas de mindfulness para ajudar os seus alunos a atingir objetivos profissionais e pessoais.
Algumas das empresas mais importantes do mundo, como as da lista da revista Fortune, também incentivam esta prática junto dos seus colaboradores para reduzir o stress no local de trabalho.
Em que consiste, afinal?
O mindfulness é a capacidade de viver cada momento, de estar presente e de ter atenção plena ao aqui e ao agora. Ganharmos consciência de nós e do que se passa à nossa volta é, no fundo, o que constitui a base desta prática. Há uma ideia de não estar ‘pré-ocupado’ com o futuro (ou com o passado) e conseguir viver e assumir plenamente o presente.
O mindfulness provém e associa-se aos rituais de meditação de várias religiões, nomeadamente do Budismo, mas não tem de estar ligado a nenhuma, sendo a sua prática completamente transversal, independentemente de religiões, sistemas de crenças ou culturas.
Mindfulness é, portanto, um treino que utiliza técnicas simples de meditação, conhecidas e usadas há milénios, e que podem ser utilizadas para permitir que as pessoas aprendam a prestar atenção a cada momento, e que o façam intencionalmente.
Como é feito o treino?
A prática formal desenrola-se num espaço específico, com um horário definido e com uma determinada postura estável, em que o indivíduo deve estar confortável e quieto, mas não adormecido. A ideia é a de fazer um esforço de atenção total e deixar os pensamentos fluir durante alguns minutos e em silêncio.
A prática informal realiza-se em qualquer situação, durante as atividades diárias, no trabalho, durante uma refeição. Este exercício estimula a prática da atenção plena aplicada às rotinas diárias. Nesta modalidade, o exercício pede que a pessoa se foque nas ações quotidianas ou na própria respiração.
A pessoa escolhe um ou mais momentos do dia para prestar atenção a 4 coisas — corpo, sensações, emoções e pensamentos –, uma forma de meditação que não passa pela reflexão, antes pela perceção direta do que se sente naquele preciso momento.
Como pode ajudar?
A maioria de nós vive em grande aceleração, sem conseguir parar para sentir, nem para refletir, sobre o sentido que as coisas fazem no caminho de vida que escolheu.
A maior valia para o praticante será notar e aceitar a sua experiência atual, apenas como é (má, neutra ou boa), e nessa sequência aprender a aceitar a vida com as suas experiências. A redução da ansiedade ou o relaxamento normalmente acontecem a partir daí.
Um teste para medir o nível de stress
Apesar de podermos medir o nível de atenção plena em que estamos por via dos exames clínicos aplicados à neurociência, este também se mede por meio de questionários psicométricos validados cientificamente.
Experimente fazer um desses testes e perceba a situação em que se encontra. Pode ser o primeiro passo para pensar e agir sobre os seus próprios níveis de stress.
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